26 DE MAIO DE 2022 – 18h
“Resistência Feminina em tempos de guerra: as mulheres e a Guerra Civil Espanhola (1936-1939)”
No verão de 1936, quase duas décadas depois do término da Primeira Guerra Mundial, a Europa Ocidental voltou a ser palco de um sangrento confronto armado. Estima-se que, entre julho de 1936 e abril de 1939, pelo menos 500 000 pessoas tenham perdido a vida em decorrência da Guerra Civil Espanhola. Além da enorme quantidade de vítimas e dos inúmeros feridos de guerra, registaram-se centenas de milhares de pessoas deslocadas para outros países na condição de refugiadas. Ao fim desses anos de horror, as forças do general Francisco Franco, apoiadas pelos regimes de Hitler e Mussolini, venceram a guerra e derrubaram o governo legítimo da Segunda República. Teve início uma longa ditadura em Espanha, que duraria quase quatro décadas.
A segunda conferência promovida por “Resistência no Feminino”, que é uma iniciativa de HTC – História, Territórios e Comunidades – CFE NOVA FCSH, em parceria com a Fundação Mário Soares e Maria Barroso, tem por objetivo debater a experiência coletiva das mulheres, a sua atividade e o seu papel na resistência antifascista durante a Guerra Civil Espanhola. Como afirma a historiadora Mary Nash, uma das pioneiras no estudo da história das mulheres em Espanha, a mobilização em massa da população naquela altura representou uma rutura do habitual confinamento das mulheres ao lar e deu-lhes uma visibilidade pública completamente diferente do que a sociedade espanhola estava acostumada até então. No entanto, a resistência feminina durante aquele conflito assumiu variados contornos. Pode-se falar, por exemplo, no surgimento das milicianas, mulheres que se dedicaram ativamente ao esforço bélico contra o fascismo e cuja imagem foi amplamente divulgada no início da guerra para fins de propaganda e recrutamento. Mas também é preciso lembrar as mulheres que estavam na retaguarda em tarefas de apoio, ficando responsáveis pela assistência social e hospitalar, pela fabricação de uniformes para os soldados e pelo trabalho nas fábricas de munições, entre outros labores que passaram exercer em razão das necessidades ligadas ao esforço de guerra e pela própria ausência dos homens combatentes nos postos de trabalho que tradicionalmente ocupavam. Ademais, o crescimento do ativismo feminino, com o enorme aumento de afiliadas a organizações de mulheres durante a época da guerra, é outro aspeto que pode ser salientado no que concerne à resistência das mulheres e aos novos papeis que estas passaram a desempenhar em Espanha.
Célebres ou anónimas, heroínas das trincheiras ou simplesmente mulheres que tratavam de sobreviver às duras e trágicas circunstâncias provocadas pelo confronto, o seu papel na resistência tem de ser reconhecido e recordado. Não se pode pensar a Guerra Civil Espanhola, ou qualquer outra guerra, sem ter em consideração a realidade das mulheres e a sua resistência. A conferência de 26 de maio de 2022, cujo título é “Resistência Feminina em tempos de guerra: as mulheres e a Guerra Civil Espanhola (1936-1939)”, contará com a participação da Professora Doutora Ana Martínez Rus, da Universidad Complutense de Madrid; da Professora Doutora Beatriz de las Heras, da Universidad Carlos III de Madrid; da Professora Doutora Paula Godinho, da Universidade Nova de Lisboa; e com o comentário do Professor Doutor Rúben Leitão Serém, da University of Nottingham (UK).
Intervenções:
“Milicianas, mujeres combatientes. De iconos del antifranquismo a la estigmatización social”
ANA MARTÍNEZ RUS – Professora Titular de História Contemporânea – Facultad de Geografía e Historia – Universidad Complutense de Madrid
Ana Martínez Rus é Professora Titular de História Contemporânea na Facultad de Geografía e Historia da Universidad Complutense de Madrid. Doutora com Prêmio Extraordinário em 2001 pela Universidad Complutense, realizou pós-doutoramento na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris sob a direção do Professor Roger Chartier. É especialista em História Sociocultural, sobretudo na história da edição e da leitura em Espanha no século XX, dando especial atenção aos anos trinta. Dedica-se, ainda, ao estudo da Segunda República, da Guerra Civil Espanhola e do franquismo, tendo publicado vários trabalhos relacionados com essas linhas de investigação, bem como integrado projetos de I&D. Desenvolveu estudos sobre as mulheres no período da Guerra Civil Espanhola e é a autora da obra Milicianas. Mujeres republicanas combatientes, publicada em 2018 pela editora La Catarata. É justamente sobre essas mulheres, que a partir de 1936 combateram pela República na guerra que assolou Espanha e mudou por completo o destino do país, que Ana Martínez Rus falará nesta conferência organizada por Resistência no Feminino.
“Mulheres fotografadas, mulheres (re)apresentadas. Espanha, 1936-1939”
BEATRIZ DE LAS HERAS – Professora de História Contemporânea – Departamento de Humanidades / Instituto de Cultura y Tecnología – Universidad Carlos III de Madrid
Beatriz de las Heras é Professora de História Contemporânea na Universidad Carlos III de Madrid e integra o Instituto de Cultura y Tecnología desta universidade. É também membro da Sociedad Española de Historia Contemporánea e da Real Sociedad Fotográfica. Doutora em Humanidades com especialidade em teorias e práticas da História, foi Prémio Extraordinário de Doutoramento em 2012 pela sua tese sobre a imagem da mulher no fundo fotográfico da Guerra Civil Espanhola da Biblioteca Nacional de Espanha. Beatriz de las Heras é especialista no estudo da História através dos suportes visuais, principalmente da fotografia, tendo integrado diversos projetos de investigação nesta área em Espanha e em outros países, como Portugal, Brasil e Argentina. Nesta conferência da rede Resistência no Feminino, Beatriz de las Heras irá apresentar diferentes realidades experimentadas pelas mulheres durante a Guerra Civil Espanhola a partir dos registos fotográficos.
“O marco de 1936: mulheres na fronteira galaico-portuguesa, entre a repressão e a resistência”
PAULA GODINHO – Professora do Departamento de Antropologia – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
Paula Godinho é antropóloga, investigadora no Instituto de História Contemporânea (IHC NOVA FCSH) e Professora Associada com Agregação no Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Doutora em Antropologia, realiza trabalho de campo há vários anos em Portugal, na fronteira, na Galiza e no Ceará (Brasil). Em 2008, ganhou o prémio galego Xesús Taboada Chivite com a obra Ouvir o galo cantar duas vezes – Identificações locais, culturas de orla e construção de nações na fronteira entre Portugal e a Galiza. Alguns dos temas aos quais se dedica são: reprodução social, festas e rituais, resistência e movimentos sociais, usos políticos da memória e práticas do património, topografias do poder, culturas de fronteira e nacionalismos de diáspora. Nesta conferência da rede Resistência no Feminino, Paula Godinho falará sobre a realidade de resistência e repressão vivida pelas mulheres na fronteira galaico-portuguesa durante a Guerra Civil Espanhola.
Comentário de RÚBEN LEITÃO SERÉM – Professor Assistente em História Europeia do Século XX no Departamento de História da University of Nottingham (UK).
Rúben Leitão Serém é Professor no Departamento de História da University of Nottingham (UK). Doutor em História Internacional pela London School of Economics (LSE), é especialista em História política, social, cultural e religiosa de Espanha no século XX, com ênfase na Segunda República (1931-1936), na Guerra Civil (1936-1939) e na ditadura do general Francisco Franco (1939-1975). Estuda também as relações luso-espanholas entre 1936 e 1975, a História política, social e cultural de Portugal no século XX e o fascismo na Europa entre guerras (1919-1939). Contaremos com a contribuição e o comentário de Rúben Leitão Serém nesta conferência organizada pela rede Resistência no Feminino.
Moderação de MARIA FERNANDA ROLLO, Historiadora, HTC – História, Territórios e Comunidades – CFE, NOVA FCSH e Fundação Mário Soares e Maria Barroso.
Data e horário:
26 de maio de 2022, às 18h (hora de Lisboa)
Local:
Fundação Mário Soares e Maria Barroso
Rua de S. Bento, 176 – 1200-821 – Lisboa, Portugal
Modalidade de participação: presencial ou online
Acesso livre e gratuito.