30 DE JUNHO DE 2022 – 18h
“As Mulheres nas prisões do Estado Novo“
A história da luta contra a ditadura do Estado Novo, é, também, uma história feminina.
Uma história de um singular protagonismo, que ousou atravessar as barreiras do medo invadindo o lugar da luta e da resistência, constituindo-se enquanto sujeito político, paradigma de um determinado processo histórico. Foram mulheres que compuseram uma barreira de força no campo da resistência, ao mesmo tempo que subvertiam os valores estabelecidos pelo regime à sua condição de género.
A evidência da sua intervenção na primeira linha de combate revela-nos a dimensão da coragem de uma oposição, que, ao afrontar um regime brutal, arriscava engrossar as fileiras dos aprisionados. De ideologias diversas, são mulheres individualmente notáveis, com a conscientização da importância de uma luta concomitante pelos ideais da liberdade e da democracia.
Permitem-nos as experiências coletivas das mulheres que se arrolam no processo de aprisionamentos políticos um olhar consentâneo sobre as vivências das cadeias do Estado Novo e que nos remete espontaneamente para a representação predominante de um dominador, repressivo, torturador, executante de uma violência discricionária.
Falar dos opositores ao regime do Estado Novo é falar também de mulheres. Na história da resistência contra a ditadura, elas estiveram presentes e a sua participação foi decisiva. Um número impressionante de mulheres passou pelas prisões políticas, sujeitas às piores sevícias cometidas pela polícia do regime fascista. Na memória das protagonistas ainda existentes, encontram-se ancoradas as histórias de sofrimento pessoal, que conferem um significado de valorização de identidade e de reafirmação do combate da oposição no feminino.
Neste âmbito, promovida por Resistência no Feminino, iniciativa de HTC – História, Territórios e Comunidades – CFE NOVA FCSH, em parceria com a Fundação Mário Soares e Maria Barroso, irá realizar-se no próximo dia 30 de Junho, a conferência “As Mulheres nas prisões do Estado Novo”, considerando que o tema merece uma permanente relevância.
Esta iniciativa procurará debater, na perspetiva histórica, o papel abnegado das mulheres que combateram a ditadura fascista e a brutalidade dos métodos físicos e morais de que foram vítimas nas prisões políticas, perpetrada pela polícia do regime.
Contaremos com as intervenções de Luís Farinha, Vítor Dias, Marianela Valverde e com a moderação de Maria Fernanda Rollo. Contaremos, ainda, com os testemunhos das ex-prisioneiras políticas Apolónia Teixeira, Aurora Rodrigues, Bárbara Judas, Conceição Matos, Graça Erika Rodrigues e Helena Neves, que contribuirão para o exercício de reconstituição dos percursos da resistência feminina e dos processos punitivos a que foram sujeitas.
Intervenções:
Mulheres – filhas, esposas, mães, resistentes. As vastas teias da P.I.D.E.
Luís Farinha – Professor do Ensino Secundário; Professor convidado da Faculdade de Letras de Lisboa (1989-1991); Doutorado em História Política e Institucional do século XX pela NOVA FCSH; Diretor-adjunto da Revista História (2002-2007); Investigador do Instituto de História Contemporânea (IHC NOVA FCSH); Diretor do Museu do Aljube – Resistência e Liberdade (2015-2020); Comissário da Exposição “Morte à Morte! 150 anos da Abolição da Pena de Morte em Portugal/1867-2017 (Assembleia da República, 2017).
Mulheres nas prisões do fascismo; sofrimento, coragem e dignidade
Vítor Dias – Jornalista, colaborador em diversos jornais (Semanário, O Diário, Avante!, O Militante), com editoriais, artigos e crónicas; Assessor da Câmara Municipal da Moita; Coordenador de investigação do livro “Elas Estiveram nas Prisões do Fascismo”, edição da URAP (União de Resistentes Antifascistas Portugueses); Blogues: O Tempo das Cerejas e Nova Síntese.
A resistência no Estado Novo e o retratar de um combate no feminino
Marianela Valverde – Doutoranda de História Contemporânea na NOVA FCSH, investigadora de HTC – História, Territórios e Comunidades – CFE NOVA FCSH.
Moderação:
Maria Fernanda Rollo – Historiadora, HTC – História, Territórios e Comunidades – CFE, NOVA FCSH e Fundação Mário Soares e Maria Barroso.
Testemunhos:
- Apolónia Teixeira – Socióloga. Com processo com a PIDE como estudante (1970-1971), esteve presa em Caxias em abril de 1974.
- Aurora Rodrigues – Magistrada jubilada do Ministério Público em Évora. Enquanto militante do MRPP, esteve presa em Caxias em duas ocasiões distintas: presa pela PIDE, em Maio de 1973, e encarcerada pelo COPCON, em Maio de 1975.
- Bárbara Judas – Ativista política. Como membro do Partido Comunista Português, esteve presa em Caxias em 1972.
- Conceição Matos – Ativista política, revolucionária, comunista e antifascista. Tornou-se funcionária do Partido Comunista Português em 1963. Foi presa duas vezes pelo regime do Estado Novo, em 1965 e em 1968.
- Graça Erika Rodrigues – Arquiteta e ativista política. Foi presa pela primeira vez em 1962 e novamente em 1965, tendo permanecido na prisão de Caxias por seis meses.
- Helena Neves – Jornalista, escritora, investigadora e docente universitária. Deputada pelo Bloco de Esquerda entre 2001 e 2002. Como ativista política e membro do Partido Comunista Português, foi presa por três vezes pelo regime do Estado Novo, em 1968, 1973 e 1974.
Data e horário:
30 de junho de 2022, às 18h (hora de Lisboa)
Local:
Fundação Mário Soares e Maria Barroso
Rua de S. Bento, 176 – 1200-821 – Lisboa, Portugal
Modalidade de participação: presencial ou online
Acesso livre e gratuito.